Em um país tropical como o Brasil, o frio extremo é quase uma exceção. Mas existe um território onde o inverno é levado a sério, onde a rotina inclui casacos pesados, aquecedores ligados durante todo o dia e geadas que pintam o cenário de branco: a Serra Catarinense.
Situada em altitudes elevadas, entre 1.000 e 1.800 metros acima do nível do mar, essa região abriga algumas das cidades mais frias do país, como São Joaquim, Urupema, Urubici e Bom Jardim da Serra.
Nas últimas duas décadas, o inverno da serra foi palco de registros históricos de temperatura, fenômenos climáticos raros e imagens que circularam o país inteiro. Abaixo, reunimos os episódios mais marcantes, que transformaram a serra em referência nacional quando o assunto é frio, e mostraram que, em algumas partes de Santa Catarina, o inverno pode ser tão rigoroso quanto em países do hemisfério norte.
2000: o início do século com neve em São Joaquim
O ano 2000 ficou marcado pela ocorrência de neve em São Joaquim, com acúmulo expressivo. Apesar das limitações técnicas da época para medições detalhadas, os moradores ainda se recordam da intensidade da precipitação, que cobriu telhados, ruas e campos da região. O episódio foi um dos primeiros grandes destaques climáticos do século XXI na serra.
2006: temperaturas negativas e turismo em alta
Em julho de 2006, cidades como São Joaquim e Urupema atingiram temperaturas em torno de -5 °C, acompanhadas de intensas geadas brancas, que criaram verdadeiros tapetes de gelo sobre as plantações e estradas. O frio atraiu turistas de diversos estados, gerando inclusive o esgotamento de leitos hoteleiros na região.
2011: Urupema ganha notoriedade como a cidade mais fria do Brasil
Em 2011, Urupema registrou temperaturas inferiores a -7 °C, conquistando o reconhecimento como a cidade mais fria do país. O inverno foi rigoroso em toda a serra, com várias madrugadas abaixo de zero e ocorrência de sincelo — fenômeno no qual a névoa congela ao entrar em contato com superfícies geladas, criando paisagens cristalizadas.
2013: o inverno mais rigoroso da década
Considerado por muitos o inverno mais marcante dos últimos 20 anos, o ano de 2013 surpreendeu com neve em diversas cidades da serra, incluindo São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urubici e Painel. Os termômetros chegaram a -8 °C em alguns pontos, e as imagens da neve acumulada ganharam repercussão nacional. Escolas suspenderam aulas, estradas foram parcialmente interditadas e o turismo atingiu picos de ocupação.
2016: sensação térmica de -10 °C e formação de sincelo
Julho de 2016 trouxe novas ondas de frio intenso. Com o avanço de uma massa de ar polar, cidades da serra registraram sensações térmicas abaixo de -10 °C. O sincelo voltou a ser observado em Urupema e São Joaquim, cobrindo árvores, postes e veículos com uma película espessa de gelo. O fenômeno, raríssimo no Brasil, é comum em altitudes elevadas e chamou atenção pela beleza e pelos riscos nas rodovias.
2021: frio prolongado e recordes de temperatura mínima
O inverno de 2021 foi um dos mais longos e consistentes da década. Ao longo dos meses de junho, julho e agosto, diversas ondas de frio chegaram à Serra Catarinense, derrubando os termômetros e prolongando os efeitos do inverno. Em São Joaquim, as mínimas chegaram a -7 °C, com geadas quase diárias e registros de neve em áreas isoladas. A combinação de frio intenso e céu limpo gerou paisagens cinematográficas, amplamente compartilhadas nas redes sociais.
Outros invernos notáveis (2009, 2010, 2018 e 2023)
Em 2009, a neve apareceu fora de época, no final de agosto, surpreendendo moradores e turistas. Já 2010 foi marcado por temperaturas baixas, mas sem precipitação expressiva de neve. Em 2018, o frio chegou com força no início de junho, antecipando a temporada. Em 2023, embora a intensidade tenha sido menor, as previsões apontaram aumento do número de dias com temperaturas negativas, o que favoreceu a formação de geadas fortes e a manutenção do turismo de inverno.
Mudanças climáticas e expectativas para o futuro
Apesar dos episódios marcantes, meteorologistas alertam para os efeitos das mudanças climáticas na frequência e intensidade dos invernos serranos.
O número de dias com temperaturas negativas vem se mantendo relativamente estável, mas com variações significativas entre um ano e outro. A irregularidade na ocorrência de neve também é um indicativo de que o padrão climático da região pode estar mudando.
Ainda assim, a Serra Catarinense continua sendo referência nacional em clima frio e experiências de inverno.
A busca por hospedagens, passeios e roteiros românticos na estação mais gelada do ano se mantém alta, impulsionada pela memória afetiva dos invernos passados e pela expectativa de reviver, ou presenciar pela primeira vez, os momentos em que a serra congela, literalmente.
