Em um país de clima majoritariamente tropical, a imagem de paisagens cobertas de branco pode parecer algo distante. No entanto, no sul de Santa Catarina, o frio vai além do desconforto térmico e ganha forma visível: a neve, fenômeno que, embora esporádico, ocorre de forma real e documentada em municípios da Serra Catarinense.
Mas, afinal, por que neva em Santa Catarina, e por que esse fenômeno acontece especificamente em determinadas cidades, como São Joaquim, Urupema, Urubici e Bom Jardim da Serra?
Para que a neve se forme, são necessárias três condições simultâneas: ar frio em todas as camadas da atmosfera, umidade suficiente e um sistema meteorológico que provoque instabilidade. Santa Catarina, sobretudo na região serrana, reúne esses elementos de forma ocasional durante o inverno.
Altitude elevada: as cidades da Serra Catarinense estão localizadas entre 1.000 e 1.800 metros acima do nível do mar. Essa elevação provoca o resfriamento natural do ar, reduzindo significativamente a temperatura. Quanto maior a altitude, maior a chance de que a precipitação ocorra em forma de neve, e não de chuva.
Frentes frias intensas: durante o inverno, massas de ar polar que avançam a partir da Patagônia e do sul da Argentina atingem o sul do Brasil. Quando essas frentes frias chegam com intensidade suficiente, derrubam as temperaturas para valores abaixo de zero, especialmente à noite e nas madrugadas.
Presença de umidade e instabilidade: de nada adianta o frio seco. Para que a neve ocorra, é necessário que haja umidade no ar, proveniente, por exemplo, de uma frente fria ou de uma corrente de vento úmido que atinge a região. É essa umidade que, ao encontrar o ar gelado, forma os cristais de gelo que caem em forma de flocos.
Neve não é geada, e o sincelo também é diferente
Muitas vezes, imagens de paisagens brancas em Santa Catarina geram confusão. Nem sempre o branco que cobre campos e telhados é neve. Em grande parte das vezes, trata-se de geada, a formação de cristais de gelo provocada pela condensação e posterior congelamento do vapor d’água em superfícies frias, principalmente nas madrugadas.
Outro fenômeno recorrente na serra é o sincelo, que ocorre quando o nevoeiro congela diretamente ao tocar objetos expostos, como postes, fios de energia e vegetação. O sincelo também forma uma paisagem branca, mas seu mecanismo é diferente da neve, pois não envolve precipitação.
Impacto no turismo e na cultura local
A possibilidade de ver neve é um dos grandes atrativos da Serra Catarinense durante o inverno. Cidades como São Joaquim e Urubici se preparam anualmente para receber turistas em busca do fenômeno, ainda que ele não ocorra em todos os anos. A expectativa em torno da neve movimenta hotéis, restaurantes, vinícolas e comércio local.
Além disso, a identidade cultural da serra está fortemente ligada ao frio. A gastronomia baseada em pratos quentes, o uso do pinhão, o vinho de altitude e a arquitetura das cabanas serranas refletem a relação profunda entre os moradores e o clima.
Neve em 2025
A primeira neve do ano aconteceu no dia 29 de maio, e levou milhares de turistas à Serra Catarinense. Mas, afinal, o fenômeno tende a se repetir?
Sim! De acordo com as previsões meteorológicas, o inverno de Santa Catarina neste ano vai ter, pelo menos, três ondas de ar frio de origem polar. E esse é o cenário perfeito para mais episódios de neve na Serra.
A combinação de altitude elevada e frentes frias que chegam do sul do continente torna possível, em algumas ocasiões, a ocorrência de neve, um fenômeno que, embora raro, é um dos grandes atrativos da serra.
Com a previsão assim, milhares de turistas se programam para visitar as cidades serranas e sentir de perto todo esse frio.
