O descaso

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Vivemos em um mundo onde a comunicação é instantânea, onde cada toque na tela é uma promessa de resposta rápida, onde o compromisso é muitas vezes uma palavra leviana. No entanto, o descaso na era da conexão é uma arte silenciosa, um reflexo de uma apatia que parece se espalhar mais rápido do que a própria tecnologia. Ignorar uma ligação, não responder uma mensagem, faltar a um compromisso são atos que, embora simples, falam mais alto do que qualquer desculpa bem ensaiada.

Quando alguém não atende uma ligação, é como se o mundo real fosse momentaneamente desconectado. A notificação de chamada perdida não é apenas um símbolo de indiferença, é uma pequena ruptura na corrente de confiança. A pessoa que liga está estendendo a mão, oferecendo um pedaço do seu tempo, um fragmento da sua atenção. Ignorar isso é como dizer que o tempo do outro não vale nada, que a presença alheia é dispensável.

As mensagens não respondidas são como ecos no vazio, um grito que não encontra resposta. Cada “olá” que fica sem retorno é uma pequena frustração, um lembrete de que a comunicação é uma via de mão dupla que nem todos estão dispostos a percorrer. Não responder não é apenas um ato de omissão; é uma mensagem em si mesma. É um sinal de que a prioridade está em outro lugar, que o esforço alheio é insignificante frente à própria conveniência.

E quanto ao compromisso não cumprido? É a manifestação mais concreta do descaso. Faltar a um compromisso é como desmarcar um encontro com a própria palavra. É deixar um vazio onde havia uma promessa, uma expectativa. É desvalorizar o tempo e a importância do outro, como se a agenda pessoal fosse o único calendário que importa. O compromisso desfeito é um sinal de que o respeito e a consideração são facilmente descartáveis, de que a responsabilidade é uma questão opcional.

O descaso pode parecer um problema trivial, mas na verdade é um reflexo de um comportamento mais profundo, de uma falta de consideração que se espalha para além da comunicação. Ele revela uma atitude que vê o outro como uma conveniência, não como uma prioridade. O ato de atender uma ligação, de responder a uma mensagem, de comparecer a um compromisso, é, no fundo, um gesto de respeito, um reconhecimento do valor do outro.

Cada ligação não atendida, cada mensagem ignorada, cada compromisso rompido são pequenos testes de integridade. Eles mostram se a nossa palavra tem peso, se o nosso tempo é verdadeiramente compartilhado, se o outro é realmente importante. O descaso é a ausência dessas provas, a falta de um esforço básico para manter as conexões humanas vivas e vibrantes.

No fim das contas, a forma como tratamos os outros nas pequenas interações do dia a dia revela muito sobre quem somos. O descaso pode ser disfarçado por desculpas e justificativas, mas não se esconde da percepção alheia. Ele é um espelho que reflete uma falta de compromisso com a própria humanidade, uma desconexão que, no fundo, é muito mais do que apenas não atender uma ligação. É um sinal de que, talvez, o que precisamos não seja mais tecnologia, mas um retorno à empatia e ao respeito mútuo.

Sibéle Cristina Garcia
Sexóloga/ Comunicadora/ Encorajadora da Liberdade Feminina