A data que hoje movimenta o comércio e lota restaurantes no Brasil tem uma origem muito mais simbólica e até política. Celebrado no segundo domingo de maio, o Dia das Mães nasceu como um ato de paz nos Estados Unidos no século 19 e foi ressignificado ao longo do tempo por diferentes culturas, até ganhar a força comercial que conhecemos atualmente.
Um ato pacifista transformado em tradição
A ideia de criar o Dia das Mães partiu de Julia Ward Howe, em 1872, nos Estados Unidos, como uma proposta de protesto pacifista contra a Guerra Civil. A ideia era promover o “Dia das Mães pela Paz”, em 2 de junho. A proposta não vingou de imediato, mas inspirou outras pessoas a reforçarem o movimento, como a professora Mary Sasseen e o ativista Frank Hering.
Foi só em 1908 que Anna Jarvis conseguiu organizar a primeira celebração oficial, em homenagem à sua mãe, uma ativista social. Com o apoio de um empresário, a homenagem reuniu 15 mil pessoas e distribuiu cravos brancos, que viraram símbolo da data. Em 1914, o então presidente americano Woodrow Wilson oficializou o segundo domingo de maio como o Dia das Mães.
Anna Jarvis, no entanto, passou o resto da vida lutando contra a apropriação comercial da data, criticando até cartões postais, por achá-los impessoais. Ironicamente, morreu em um sanatório com o funeral pago por floristas.
A chegada ao Brasil e o uso político da data
No Brasil, a data começou a ser celebrada informalmente em 1918, em Porto Alegre, mas só foi oficializada em 1932 pelo então presidente Getúlio Vargas. Na época, a ideia era reforçar a imagem da mulher como mãe e dona de casa, num contexto de enfrentamento ao movimento feminista.
A institucionalização do Dia das Mães também coincidia com a conquista do direito ao voto pelas mulheres, em 1932. O governo utilizou a valorização da maternidade como ferramenta para fortalecer a ideia da mulher no lar, conectando a data com ideais cristãos e valores tradicionais.
Com o passar do tempo, a figura da mãe evoluiu para além da dona de casa idealizada. Hoje, a maternidade é plural: mães solo, trans, trabalhadoras e madrastas também são celebradas. Os presentes também mudaram — panelas saíram de cena para dar lugar a itens de uso pessoal e experiências.
Celebrações diferentes ao redor do mundo
Embora o Brasil siga os Estados Unidos e celebre o Dia das Mães no segundo domingo de maio, muitos países têm datas e tradições próprias. No Reino Unido, a comemoração ocorre no quarto domingo da Quaresma; no México, é sempre em 10 de maio; na Tailândia, o Dia das Mães acontece no aniversário da rainha; e na Etiópia, a celebração acontece durante o festival Antrosht, entre outubro e novembro.
Já na Rússia e em países que integraram a União Soviética, o Dia das Mães perdeu espaço para o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, que se tornou a principal data de homenagem às mães.
Do afeto ao consumo: o apelo comercial da data
Mesmo com suas raízes afetivas, o Dia das Mães se tornou, ao longo das décadas, uma das datas mais importantes para o comércio. No Brasil, perde apenas para o Natal em volume de vendas. Esse processo de mercantilização se acelerou a partir dos anos 1960, com o avanço dos meios de comunicação e do varejo, e se intensificou nos anos 1980.
Durante muito tempo, a publicidade reforçou um perfil idealizado da maternidade: branca, de classe média, casada e abnegada. Essa imagem excluiu mães negras, indígenas, periféricas e solo, criando um retrato seletivo da maternidade brasileira.
Hoje, mesmo com contornos mais diversos e modernos, o Dia das Mães continua dividindo opiniões entre a celebração sincera e o marketing exagerado. Ainda assim, é um momento de afeto que continua forte no imaginário coletivo, adaptando-se às transformações sociais do nosso tempo.
