O calorão que atingiu Santa Catarina tem dado bons dias de praia, mas ao chegar lá os veranistas têm encontrado a água do mar bem fria nos balneários da região. O fenômeno tem nome e se chama ressurgência. Ele é provocado pela persistência do vento nordeste que faz com que a água fria do fundo do oceano venha para a superfície, junto a costa.
E é isso que tem ocorrido no Litoral Sul catarinense. Nestes últimos dias, o mar que banha Santa Catarina ficou “dividido” em duas partes: ao Norte de Florianópolis com águas mais quentes e ao Sul com águas mais frias. A diferença de temperatura da água entre Imbituba e Balneário Camboriú foi de aproximadamente 10°C.
“Quando o vento nordeste sopra por muito tempo ele faz com que a água da superfície do mar vá em direção ao oceano aberto e aí, esse espaço que fica, digamos assim, é preenchido por uma água mais fria vinda do fundo. Isso que caracteriza a ressurgência”, explica Argeu Vanz, oceanólogo da Epagri/Ciram, à reportagem da UNITV.
O fenômeno deve acabar ainda essa semana, já que existe a previsão de mudança na condição do vento. “O que mantém a ressurgência é o vento nordeste. No momento que ele parar, provavelmente ela deixa de existir e daí a água da superfície do oceano vai ficar um pouco mais quente. Isso porque, não terá mais o afastamento da água da costa para o interior do oceano. Acabando o vento nordeste, a ressurgência deixa de existir”, destaca Argeu.
O oceanólogo ressalta que o fenômeno não tem nada a ver com a onda de calor que atinge o estado. Foi apenas uma coincidência o calorão e a ressurgência atuarem no mesmo período.
“É um fenômeno normal que a gente vê acontecer em todos os verões. No verão sempre vai ter um vento nordeste mais significativo atuando bastante forte em termos de quantidade e de dias. É normal”, pontua.
Segundo Argeu, na região do Cabo de Santa Marta, em Laguna, é onde ocorre a ressurgência mais forte em Santa Catarina devido as condições do oceano. A estação de Imbituba que mede a Temperatura Superfície do Mar (TSM) chegou a registrar a água com 18ºC.
A ressurgência
O fenômeno da ressurgência ocorre devido ao movimento de rotação da Terra que gera uma força chamada de Força de Coriolis que deflete a água para a esquerda no hemisfério sul e para a direita no hemisfério norte. Como estamos no hemisfério Sul, a persistência de ondulação e vento nordeste possibilita o fenômeno da ressurgência na costa catarinense.
Com o vento vindo de nordeste, por Coriolis a água superficial mais quente segue o movimento apontado pelas setas vermelhas. O espaço deixado pela água quente que fluiu para mar aberto é preenchido por águas mais frias vindas do fundo.
Nutrientes
Esta água fria que chega à superfície é rica em nutrientes o que possibilita alta produção de fitoplâncton que podem ser associados ao aumento de clorofila. Logo, essas regiões normalmente são boas para pesca.
“Os fitoplânctons são o início da cadeia alimentar nos oceanos e atraem grande número de animais consumidores. Quando nós temos ressurgência, nós vamos ter a possibilidade de pesca muito boa”, destaca o oceanólogo.
Por causa disso, a água fica menos transparente o que não a torna imprópria para o banho. “Ela deixa a água um pouquinho mais turva, justamente pelo aumento de organismos na água. É uma coisa bem natural”, reforça Argeu.