Em uma das maiores ofensivas já realizadas contra o crime organizado no Brasil, a Polícia Federal (PF), em parceria com o Ministério Público e a Receita Federal, deflagrou nesta quinta-feira (28) três operações simultâneas que miram a lavagem de dinheiro por meio do setor de combustíveis. A ofensiva resultou no bloqueio e sequestro de mais de R$ 3,2 bilhões em bens e valores e desarticulou esquemas que movimentaram de forma ilícita aproximadamente R$ 140 bilhões.
Ao todo, foram cumpridos mais de 400 mandados judiciais, incluindo 14 de prisão e centenas de buscas e apreensões em pelo menos oito estados. Entre os bens apreendidos estão veículos de luxo, imóveis, embarcações, refinarias e até mil postos de combustíveis espalhados pelo país.
“Maior operação da história contra o crime organizado”, diz Lewandowski
Em coletiva de imprensa, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou a ação como “um marco no combate às organizações criminosas”.
“Hoje nós deflagramos uma das maiores operações da história contra o crime organizado, sobretudo em sua atuação no mercado legal. Atacamos o setor de combustíveis e a ligação com o setor financeiro no que diz respeito à lavagem de dinheiro”, afirmou.
Segundo ele, a integração entre PF, Ministério Público, Receita Federal e secretarias estaduais de Fazenda foi fundamental para sincronizar as ações, que poderiam ter ocorrido em momentos distintos, mas que foram realizadas em conjunto para causar maior impacto.
Três frentes de investigação
As ações foram divididas em três operações:
- Carbono Oculto – conduzida pelo Ministério Público de São Paulo, focada em fraudes fiscais e sonegação no setor de combustíveis;
- Quasar e Tank – coordenadas pela Polícia Federal, com foco na desarticulação de organizações criminosas especializadas em lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituições financeiras.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, explicou que o esquema envolvia desde empresas de fachada até fundos de investimento usados para blindagem patrimonial. “Encontramos fracionamento de depósitos, contas de passagem, adulteração de combustíveis e toda uma rede de operadores financeiros que mantinha o esquema em funcionamento”, disse.
O tamanho do esquema
De acordo com a subsecretária de fiscalização da Receita Federal, Andrea Chaves, a rede criminosa dominava diferentes etapas da cadeia de combustíveis — da importação à venda nos postos.
“Estamos falando de mil postos de gasolina em mais de 10 estados, movimentando R$ 52 bilhões. Houve inclusive atuação de uma fintech que funcionava como banco paralelo do crime organizado”, afirmou.
A Justiça Federal autorizou o sequestro integral dos fundos de investimento usados nas operações ilícitas, além do bloqueio de até R$ 1,2 bilhão em ativos já identificados.
Refinaria do crime
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou que a ofensiva é fruto de um trabalho iniciado em 2023, com a criação de uma força-tarefa dedicada a identificar fraudes estruturadas de alto nível.
“Estamos desmantelando uma verdadeira refinaria do crime. As organizações criminosas usavam mecanismos financeiros sofisticados, semelhantes aos de grandes investidores. Foi graças à inteligência da Receita e de auditores que conseguimos seguir o rastro do dinheiro e chegar ao patrimônio dos líderes do esquema”, disse Haddad.
Segundo o ministro, mais de mil servidores federais e estaduais participaram das operações, que resultaram na apreensão de quatro refinarias, mais de mil caminhões e reforçaram a importância da PEC da Segurança Pública, que tramita no Congresso.






