Suinocultores levam propostas e pedem ajuda a deputados estaduais para superar crise do setor
Foto: Bruno Collaço / Agência AL

Uma comitiva representando os suinocultores independentes de Santa Catarina participou de uma reunião da Comissão de Agricultura e Política Rural da Assembleia Legislativa (Alesc), nesta quarta-feira (6), em Florianópolis. Os produtores têm reclamado das dificuldades econômicas do setor e protestado por ajuda.

No final de março, eles fizeram uma manifestação em Braço do Norte para chamar atenção para a falta de alternativas para conter o alto custo de produção e a desvalorização do quilo do suíno vivo. Durante o ato foram distribuídas oito toneladas de carne suína.

De acordo com levantamento da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), o prejuízo atual do suinocultor independente – que não é ligado a uma cooperativa para ajudar no custeio da produção – passa dos R$ 300 por animal vendido. Hoje, o preço pago pelo quilo do suíno vivo é de R$ 5, enquanto o custo de produção passa dos R$ 8.

Na reunião representantes dos suinocultores, de entidades da agricultura, e do governo debateram possíveis soluções para a crise do setor.

“O nosso estado é o maior produtor de suínos do Brasil e nós não temos o reconhecimento político como deveria ter. Desde o ano passado, temos buscado ações e não tem acontecido. Tentamos uma reunião com o governador Carlos Moisés da Silva em maio do ano passado e até agora não tivemos resposta. O Estado precisa olhar mais para esses produtores. A cada dia, mais suinocultores decidem que não querem mais trabalhar com a atividade e isso vai afetar toda a economia catarinense”, alertou Losivanio Lorenzi, presidente da ACCS.

Propostas

Como propostas para tentar resolver o problema, o presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural, José Milton Scheffer (PP), apontou a necessidade de marcar uma reunião, já na próxima semana, entre o governo e representantes dos suinocultores independentes.

“A ideia é buscar um caminho para oferecer um plano de subsídio para o custeio desses animais. A Comissão de Agricultura, em nome dos sete deputados, está comprometida com essa pauta. Vamos trabalhar para criar um projeto em que o Estado possa ser parceiro do suinocultor nesse momento.”

O secretário de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, Ricardo Miotto, disse que o governo está atento à crise dos suinocultores independentes. “Quero deixar bem claro que nós não vamos deixar o setor morrer. As equipes internas da secretaria estão estudando propostas”, assegurou.

Na semana passada, os suinocultores já haviam tido um encontro com o então secretário da pasta Altair Silva. Segundo Miotto, o secretário da Fazenda, Paulo Eli, também está analisando possibilidades para auxiliar o setor.

“A partir da conclusão dessas tarefas, de ver o que é possível ser feito, tanto na redução de impostos quanto na oferta de créditos, vamos chamar os suinocultores para uma reunião junto com o governador e fazer esse anúncio para socorrer a cadeia”, adiantou.

Miotto destacou também que será formada uma frente mais ampla com outros estados para cobrar medidas do governo federal.

Crescimento desordenado

Conforme a ACCS, em 2018, a China, maior consumidor de suínos do mundo, relatou o primeiro caso de peste suína africana em seu rebanho. Por ser uma doença altamente infecciosa, o país, que detinha 48% de todo o rebanho de suínos do mundo, viu a produção cair drasticamente. Outros países produtores enxergaram como uma oportunidade para aumentar a exportação de carne suína para a China. O Brasil foi um deles.

“Com isso, houve um crescimento desordenado da produção. Por mais que tenhamos conseguido aumentar em 8% a exportação no ano passado, o crescimento no número de animais foi muito exagerado e a demanda não deu conta”, disse o presidente da ACCS.

A falta de um planejamento mais estruturado e o crescimento desordenado do rebanho de suínos em decorrência da exportação para a China também foram assuntos abordados pelo secretário de agricultura de Braço do Norte, Adir Engel.

Ele apresentou dados da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) apontando que, há cerca de dois anos, o estado contava com 420 mil matrizes suínas – animais escolhidos para a reprodução -, número que saltou para 760 mil matrizes hoje.

“Está aí a razão dessa situação. Um crescimento desordenado, sem planejamento. E quem está pagando a conta hoje é o produtor independente. Ele tem dificuldade de acessar crédito, porque está em uma atividade que não tem retorno financeiro. Se acabar com os produtores independentes, nós estaremos matando as pequenas agroindústrias, as agropecuárias, os cerealistas, transportadores, veterinários, zootecnistas, vendedores. É toda uma cadeia que será prejudicada”, disse.