Uma lição de solidariedade popular e a avareza das forças políticas
Enquanto as forças políticas do Rio Grande do Sul e de Brasília, em todos os níveis, disputam a autoria da ajuda aos milhões de brasileiros impactados pelas cheias no Sul do Brasil, os brasileiros de todos os cantos dão aula de civismo, solidariedade, empatia, compaixão e amor ao próximo. Há, hoje em dia, uma verdadeira frota de caminhões, a caminho do estado gaúcho, com donativos de todos os tipos, de alimentos a materiais de limpeza, de brinquedos a colchões e produtos de higiene.
Brasileiros cuidando de brasileiros em severas dificuldades. Gente que perdeu absolutamente tudo. Casas, roupas, empresas, empregos, recordações familiares. Houve ainda a perda irrecuperável de muitas vidas. Famílias estão destroçadas. Tudo perdido nas águas de dezenas de rios e de córregos que resolveram cobrar a conta da ocupação desordenada que não ocorre só no Sul, mas em todo o país.
Enquanto empresários emprestam horas de voos de jatos particulares e de helicópteros, influenciadores sociais doam prestígio e promovem arrecadações de milhões de reais, de mantimentos e de outros donativos. Voluntários se dedicam a ajudar realizando ações que salvam vidas, em solo gaúcho. Outros tantos brasileiros emprestam caminhões, máquinas e equipamentos pesados, doam profissionais e combustíveis, produzem rodos, móveis, planejam a produção de casas pré-moldadas. Toda a dita sociedade civil apoia como pode.
Neste mesmo e exato momento, políticos de algumas cidades, do estado gaúcho e da Presidência da República saem em uma disputa lamentável. Fizeram pouco ainda. Muito pouco. Mas mesmo assim, já disputam os lugares daqueles que vão querer dizer que ajudaram no socorro às vítimas da maior tragédia natural da história do Brasil. Nunca, nenhum dos estados brasileiros foi tão castigado, em um único momento, pelas forças da natureza.
E as famílias atingidas, sejam de trabalhadores ou de empregadores, mereciam um comportamento diferente dos mandatários brasileiros. Incluindo o Congresso Nacional, que adiou a cobrança das dívidas dos gaúchos, mas não as perdoou, conforme foi proposto.
Os mais de R$ 50 bilhões que a economia do Rio Grande do Sul envia anualmente para Brasília, já neste ano vão fazer muita falta no Tesouro Nacional. Com as destruições das cidades, empresas, famílias e vidas, o estado – uma das maiores economias do país, a economia gaúcha – estará combalida quando as águas baixarem. Sem produção, consumo de produtos doados, não haverá geração de impostos. Aí os poderes municipais, estadual e Federal entenderão o tamanho da tragédia que as famílias dos gaúchos estão vivendo. Não vai demorar. E todos vão entender melhor o tamanho dos estragos. O tamanho desta tragédia.