A direita envergonhada quer espaço na política e no Judiciário

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebpm/Agência Brasil

A eleição do presidente Jair Bolsonaro, em outubro de 2018, significou o ressurgimento da direita facilmente associada aos conservadores dentre os políticos, mas principalmente, entre os eleitores brasileiros. É preciso destacar que a esquerda ou os progressistas nadaram de braçada no cenário pós regime militar, por um período de quase 40 anos, deste a eleição de 1982 até a de 2018. Acuados com o fim do regime de exceção a partir de 1979, os políticos de direita e seus eleitores perderam espaço, perderam a voz e, de onde não surgiram novas lideranças, exceto raros exemplos. Na eleição de 1982, a esquerda conquistou importantes vitórias, quase equilibrando o jogo, ou ainda, demonstrando que o empate e a virada estavam próximos. Era majoritária a posição da direita, inclusive, no Supremo Tribunal Federal (STF), onde os ministros são indicados pelo presidente de plantão no Palácio do Planalto.

Apesar da queda do Muro de Berlim, em 1989, e do esfacelamento da extinta União Soviética, em 1991, o Brasil observou o crescimento do número de partidos, do eleitorado e do número de políticos ideologicamente engajados com a esquerda. Mesmo com a eleição do presidente Fernando Collor, em 1989. Este movimento cresceu de forma exponencial a partir da eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Mesmo com três derrotas consecutivas à Presidência da República, o sindicalista Luis Inácio Lula da Silva fortaleceu o Partido dos Trabalhadores no Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), nos governos estaduais e em prefeituras de grandes cidades.

As vitórias do PT e de outros partidos da esquerda, em diversos estados e capitais, pavimentaram a eleição de Lula em 2002, a reeleição em 2006 e as eleições de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. A segunda vitória de Dilma foi um pouco mais apertada, fato que contribuiu para a cassação ser aprovada no Congresso Nacional com a presidência do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, indicado pelo então presidente Lula. O infiel da balança foi o grupo de partidos e políticos mais ao centro do espectro político, chamado Centrão. O mesmo Centrão para onde pende agora o presidente Bolsonaro. Políticos de direita, criados durante a ditadura militar de 1964, não sabem fazer oposição e, por isso, tomaram uma surra dos políticos ligados à esquerda.

A eleição de Bolsonaro devolveu à esquerda o papel de oposição, onde estes políticos foram forjados. Mas ao mesmo tempo, fez ressurgir uma direita mais atuante, tão agressiva quanto a esquerda nas reações, apesar de um pouco mais educada nas manifestações. A esquerda, que tradicionalmente vestiu o vermelho dos partidos comunistas da Rússia e da China, viu surgir uma direita que vai às ruas e grita com a mesma intensidade, vestindo o verde e o amarelo da bandeira brasileira. De direita, o presidente tem, durante este mandato, duas indicações já feitas peara o STF.

Historicamente, foi possível observar a bipolarização em relação a partidos políticos, ideologias políticas em todo o mundo. Mais recentemente o conceito de “nós contra eles” tem acirrado o distanciamento entre direita e esquerda. Estados Unidos versus União Soviética, atualmente Rússia, mas com países satélites igualmente divididos. Podemos ampliar as lentes, comparando Estados Unidos e China. O resultado desta equação é o mesmo. Conservadores e progressistas, direita e esquerda, que no fundo reflete as interpretações relacionadas a condução da economia, direitos de trabalhadores, distribuição de riquezas.

No Brasil, desde o Império, há 200 anos, foi observada a composição da Assembleia Nacional dividida entre conservadores e progressistas. Fato que perdurou na República Velha, no Estado Novo, onde foi observada a criação de mais partidos políticos, mas com protagonismo de PSD e UDN. O regime militar, instaurado em 31 de março de 1964, voltou a enquadrar políticos em dois lados: esquerda, no MDB e direta, na Arena. A Arena era o partido do governo, dos militares que comandavam a república. Com o general Ernesto Geisel, presidente do país, começou a abertura, com a autorização de retorno ao país de líderes políticos que estavam exilados no exterior. Depois, o general João Baptista Figueiredo, último presidente do ciclo militar, coordenou a abertura política.

O ressurgimento do pluripartidarismo no Brasil vigora desde a aprovação da Lei n° 6.767, de 20 de dezembro de 1979. Nesta fase da abertura e reconstrução política partidária no Brasil, a Arena viraria PDS, único partido de direita. A esquerda foi fragmentada em diversas legendas: o próprio MDB, que virou PMDB, o PT, o PTB, e o PDT. Após as eleições para o Congresso Nacional e governadores e deputados estaduais, ainda durante o governo militar, a movimentação de políticos e criação de novos partidos é pequena. Contudo, a partir do Governo do presidente José Sarney, iniciado em abril de 1985, após a morte de Tancredo Neves, último presidente eleito no Colégio Eleitoral (votação indireta), ocorre uma enxurrada na criação de novas legendas.

A maior parte destas legendas surgiu, até o final dos anos 1980, na esteira da esquerda, batendo na memória do então recente fim do governo militar, àquela época.

Muitos apostam que a eleição de 2022 está definida com a volta do ex-presidente Lula ao Planalto e ao comando do governo federal. Mas o crescimento do número de parlamentares conservadores ou de direita, nas votações que Bolsonaro e Sérgio Moro terão, fatalmente fará o jogo do xadrez político brasileiro ter um pouco mais de equilíbrio, nem tanto à esquerda e tampouco muito à direita.